Palavras de amor. Eram dos poetas, dos apaixonados, dos adolescentes, das mães
para os filhos, sussurravam-nas as solteironas aos gatos, as beatas diante do
Crucificado; liam-se nos romances em que a doente se apaixonava pelo médico, ou
a criada de dentro caía nos braços do fidalgo; ouviam-se nos fados,
soletravam-nas as actrizes nos filmes a preto e branco.
Hoje as palavras de amor continuam a ser dos poetas e dos namorados, das mães, das solteironas, das beatas, mas são-no também da publicidade, ajudam a vender mixórdias e cremes, automóveis, iogurte, pasta dos dentes, gelados, café e chá; são usadas pelas agências de viagens, fabricantes de smart phones, político americano que queira manter o lugar termina a arenga às massas com um I love you.
Já havia inflacção, até que uns dez anos atrás chegaram os blogues, e com eles as palavras de amor tornaram-se enxurrada, com a qualidade das enxurradas. Permito-me afirmá-lo porque investiguei, investigo, exploro-as na blogosfera com uma dedicação de entomologista à procura do insecto raro.
Pode ser que ande por lá, mas bem escondida, a expressão de amor original, elegante, formulada de modo em que nela a paixão cintile e ressalte.
Sinal dos tempos, da vulgarização, das modas, da tendência para nivelar pelo mais baixo, mais usual, compreensível mesmo para os fracos do espírito, abunda a chochice, a frase requentada, aquele "amo-te" tão desgastado pelo abuso que dá para parafrasear o "se fosses só três sílabas" de Alexandre O'Neill.
E a julgar pelo que na blogosfera leio, senhoras e meninas levam a palma, pois ainda não encontrei uma que exprima a sua paixão com um vocabulário ou estilo que me dê vontade de, literalmente, sair à rua a deitar foguetes.
Senhoras e senhores, meninos e meninas:
As vossas paixões e a nossa língua bem merecem o esforço: aprendam a falar de amor.