É bom, mesmo muito bom, mas não recomendo. Vou a meio das 872 páginas e tenho dormido mal, tanta impressão me fazem os horrores da Revolução Francesa. Julgava conhecê-los, tinha ideia de que já lera mais que o suficiente, mas a consciência jovem, espicaçada pela narrativa, tende a distorcer as imagens, empresta à História ficções de cinema e de romance.
Na velhice outro galo canta. A visão será agora deturpada pelo que fui acumulando de medos e desenganos, verdade é que nunca La Terreur se me apresentou com este negrume ou idêntica capacidade de atormentar.
Com o seu talento Hilary Mantel faz-me testemunha, obriga-me a escolher partido, empurrado por ela mato, atraiçoo, torturo, deixo de ter consciência, sou apenas fera.
Deus nos livre de que um dia se repita o que acontece quando, esfomeada, espezinhada, desesperada, a multidão sai à rua e levanta forcas.