É gente que vive num antigamente que nunca foi como o idealizam, e vem apontar o dedo aos jovens escritores que não se mostram revoltados com a crise do país e parecem desafeitos da política.
Acenam então com os "grandes nomes" das décadas de 50 e 60, e eu, triste de mim, que os conheci, testemunhei as vaidadezinhas, as cumplicidades, os medos, recordo entre outros aquele grande escritor esquerdista que ganhava rios de dinheiro com a publicidade capitalista e salazarista, mas se queixava, amargo, lamuriando "nunca me deixaram escrever o que queria."
Quem raio o proibia de fazê-lo?
Podem censurar os jovens escritores pelo desinteresse que mostram pela política e a sociedade, e o muito tempo que usam a inspecionar o próprio umbigo e adjacências, mas dêem-lhes exemplos mais nobres do que os senhores escritores que foram da "Oposição", orgulhosos "lutadores antifascistas" – tê-lo-ão sido tanto como gritaram? - e sofriam quando a Censura não lhes proibia os livros, porque era isso que dava fama e proveito, o rótulo de mártir.