No tempo remoto em que os nossos antepassados vestiam
peles, usavam moca e,fazia pouco, tinham descoberto o fogo e a linguagem, um
deles, numa tarde amena em que sol brilhava, roídas as costeletas do porco que a
noite antes tinha caçado, deitou-se à entrada da caverna e, gritando aos
vizinhos: "Que grande felicidade !" – estragou o conceito.
Desde então, ao longo dos milénios e incessantemente, não
nos contentamos com outra: queremos a grande felicidade. "Que
felicidade!" só grita aquele que na rua escapa a um tombo ou apanha o
autocarro no último instante, para o mais só a "grande" satisfaz.
Diz o padre aos noivos que vão conhecer uma grande
felicidade, o mesmo ouvem os avós e os pais no nascimento do bebé. Os amantes
sussurram-no no pós-coito dos quartos de hotel, os adúlteros e os larápios
pensam-no quando por um triz escapam à descoberta, os políticos anunciam-no da
tribuna cada vez que o defraudam os cidadãos.
Por enquanto não vejo que aconteça, mas talvez um dia nos
habituemos a esquecer o adjectivo.