Já Bocage e mais antes dele o assinalaram, fizeram-no também Camilo, Eça, Fialho e outros, mesmo assim continua a surpreender: à medida que diminui a sua capacidade de intervir ou a possibilidade de agir, mais o português analisa e palra, cheio de certezas e conhecimento dos arcanos da política, da economia, do mundo da banca, dos subterrâneos do poder.
Palra com a convicção e fervor que são a marca da impotência, do medo dos confrontos, da incerteza em que vive, da desarranjada balança em que pesa os seus direitos e deveres.
Palrar e bazofiar podem ser agradável passatempo, entre amigos, durante e depois do almoço, mas são mau sinal quando se tornam maneira de ser.
Em Portugal discute-se muito, sofre-se em demasia, mas raro se faz o preciso a tempo e horas. E palavras leva-as o vento. Sem obra nem alicerces, os que vierem depois de nós não vão ter um antigamente de que se possam orgulhar.