Folheio os diários que escrevi na adolescência e ainda me
envergonha o ver-me neles nu e tão ingénuo. Os que mantive ao redor dos trinta
anos envergonham-me pelo romantismo, a fantasia, a ilusão em que eu vivia de
que, com entusiasmo e solidariedade, se salvaria o mundo.
Pergunto-me como olharei para o que agora escrevo se o destino me deixar chegar
aos oitenta. Porque ingénuo já não sou. Romântico também não, e das ilusões
guardo somente as precisas para com elas diluir um pouco as sombras do viver.
E a verdade?
Ah! A verdade! Num diário, num romance, numa conversa, no seu dia a dia, a
única verdade que ao escritor interessa é aquela que ele próprio cria. E à qual
se agarra, como bóia da sua salvação.
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