Viva o medo. O medo que nos torna pequeninos, frágeis, desamparados, nos transporta à abençoada ventura dos quatro anos, à certeza de que as incarnações do pai – o presidente Marcelo, o senhor Costa, o já condecorado contra-almirante das vacinas, os peritos – chamaram a si a "tarefa hercúlea" de nos proteger e guiar no bom caminho, pois de toda evidência já nada vale a fé ultrapassada do que era capaz o antigo anjo-da-guarda.
Viva o medo. O grande e poderoso medo da infecção pelos vários Coronas, causa de tão horripilantes formas da morte que fazem esquecer as torturas medievais e o refinamento dos suplícios na antiga China.
Viva o medo. A couraça que de verdade protege e nos afasta do semelhante, de quem nunca com certeza se pode saber com que intenções insiste em se aproximar.
Viva o medo. Que felizmente veio para ficar e trouxe consigo as novas formas de paz, de que precisamos para fazer frente ao sem-fim de ameaças que põem em perigo o nosso bem-estar e a existência do planeta. Viva o medo.