Num tempo como este, de estranhas sombras e ameaças, de perigos que têm menos a ver com epidemias do que com um futuro de totalitarismo e desespero, bem posso querer escrever palavras de optimismo, mas a tristeza, a decepção e o medo – sim, o medo – levam a melhor, são quem agora ordena.
Infelizmente não é o medo das epidemias, que sempre as houve, continuará a haver, e atrás delas vêm as vacinas e os remédios, mas o medo que me causa o semelhante, tão estranhamente agachado e submisso, medroso, que não vê no outro um irmão mas um perigo, um malfeitor desobediente, um assassino potencial.
Desse modo não serei eu a fazer votos de que com a mudança do calendário terminem as sombras, as ameaças, porque o sentimento me diz que elas vieram para ficar, e na vida terrena não há milagres.