A esse maná deram eles o gracioso nome de "uma pipa de massa", plebeísmo que traduz não só o espírito com que o receberam, como põe a nu os sonhos particulares que vão realizar. Um verdadeiro estadista seria diplomático no vocabulário, falaria de empréstimo, das condições, das circunstâncias que levaram a pedir ajuda, mas os paxás são doutra cepa. Tal como os vigaristas, com poses de seriedade e modo untuoso, por vezes conseguem aldrabar durante muito tempo, mas se lhes calha a "má" sorte de um ganho colossal e inesperado, perdem a compostura, sentem-se rei da terra, vai-lhes a boca para a verdade. Uma pipa de massa! Faz desandar a cabeça.
Nem a todos, infelizmente. Embora noutros termos, o jornal desta manhã também falava de uma pipa de massa, mas no tom seco e assustador dos números, aqueles números que escondem a realidade das vidas de miséria e aflições dos que mal conseguem sobreviver, dos que se vão afogando para manter as aparências, dos que não têm sorte nem cabeça, dos que logo ao acordar temem que lhes batam à porta, dos que se vêem sem abrigo nem salvação.
Uma pipa de massa: 519.000 família e 222.000 empresas e empresários não conseguem satisfazer os compromissos dos seus empréstimos bancários; 100.233 empréstimos a que foi recusada a moratória. 34 mil milhões de euros que, perdidos, seremos todos a pagar. Um pipa de massa, realmente.