Estais lixados, estais. Eu não, porque com mais uns tantos estou quase a ir-me embora, mas vós não só ides sofrer com o medo das várias epidemias, reais, anunciadas, as da fantasia e as dos que para seu proveito ou fama mexem os cordelinhos, como também não tendes armas, mentalidade ou tácticas contra o fascismo da protecção, que parece ser só bondade, amor, cuidados e carinho, mas em menos de um ai te põe atrás de grades, e para que a medida não pese no orçamento não te leva para a cadeia, fecha-te em casa, poupa em carcereiros e torcionários, que dessas funções te encarregarás tu, solução cínica à maneira de como funciona o supermercado, deixando a teu cargo e por tua conta as funções de fornecedor e cliente, torcionário e vítima, mas vítima agradecida porque tudo é para teu bem e descanso num mundo melhor, de solidariedade obrigatória e obediência cega.
Talvez não acredites, mas as máscaras e as multas vieram para ficar e não tardará a que te digam que não precisas de passaporte, porque as fronteiras acabaram ou só existem onde não interessa, e vão-te pôr ao pescoço uma placa de metal como a dos soldados a caminho da batalha, e nela estará tudo o que precisam saber para, queiras ou não, te internar quando decidirem que a hora chegou. Mas não temas: os campos de concentração têm má fama, são caros, nada eficientes, exigem quilómetros de arame farpado, vigias, fornos e pessoal, daí a modalidade self service de te fecharem em casa.
Agora sê franco, não esperavas isto pois não? Se to tivessem anunciado não terias acreditado que irias aceitar ser o teu próprio carcereiro, que denunciarias a desobediência do vizinho, a da tua gente. E desculpa a má nova: o que te fazem e o a que agora te obrigam é só o começo, a procissão ainda nem chegou ao adro.