Ai de nós se o Mário levar por diante a ideia de que se vê com queda para a
política. Conta ele que não quer entrar nesse partido do Ventura, o seu coração
bate à esquerda, mas sente urgência de,
como agora se diz, sair da zona de
conforto, fazer quanto puder para que isto mude e voltemos a ter orgulho de
sermos portugueses.
- Para os políticos é tudo trinta e um de boca! Podem vocês dizer se há pelo
menos um deles interessado em resolver os problemas que afectam o nosso povo? O
pobre povo que os ricos nem sequer vêem e os governantes exploram ao modo de
vaca leiteira?
Na sua opinião nunca as circunstâncias foram tão favoráveis aos que têm a
coragem de arriscar, além de que – palavras suas – Portugal necessita de caras
novas, ideais mais altos, uma dinâmica que enfrente e derrote a corja que há
meio século está no poleiro.
O Mário é um personagem: pelos seus tiques, a excessiva autoconfiança, a certeza que tem dos seus conhecimentos,
admitindo mal que alguém o contradiga ou tente convencer de estar errado. Ai
desse, porque ele toma então uma postura muito sua, mete a mão esquerda no
bolso das calças, incha o peito, ergue a
cabeça, e com o braço direito estendido aponta o indicador ao infeliz, ao mesmo
tempo que as palavras lhe saem da boca ao ritmo de metralhadora, pouco lhe
importando se o que diz tem a ver com o assunto, o seu propósito é que o outro,
aborrecido ou desnorteado se cale e dê por vencido.
Chegado a esse ponto surge então um outro Mário, a afirmar modestamente que
embora só tenha o secundário desafia qualquer um desses doutores que por aí andam
para que discutam com ele seja que assunto for, pois se há coisa que o põe
torto é que lhe venham com diplomas daqui e dacolá, essa treta das
universidades já teve o seu tempo, a ciência está hoje na internet e ao alcance
de cada um. Basta ter boa cabeça e saber usá-la.
Duma maneira ou doutra todos temos as nossas bizarrias e por malícia ou espírito
brincalhão há ocasiões em que não resistimos a atirar uma piada, só que quando
damos conta já a asneira está feita, o remédio é sofrer as consequências.
O Isidro, pachorra de homem, nem por sombras imaginaria que ao saudar a
chegada do Mário com um cordial “Olá, doutor Google! E essa política?” os que ali estavam tivessem de se
pôr entre ambos, perguntando-se se o gracejo justificava aquela fúria. De certo
modo justificava, pois como se veio a saber a D. Zé conta que já não tem
paciência para aturar o marido sabichão e é assim que lhe chama.