Porque me chegam más notícias e asseguram
os que sabem que o trambolhão não vai demorar, recordo este texto posto aqui em 18
de Maio de 2012. O triste detalhe é que na família em questão só dois escaparam
à pobreza.
Há infernos. Entre as quatro paredes há infernos
insuspeitos, com ódios, invejas, fúrias que queimam fundo e mais lentamente que
as labaredas de Belzebu. Infernos de fogo lento, diário, com pausas inesperadas
entre o martírio, não para que se sinta alívio, mas para que na carne e na alma
se renove a dor.
É família grande, creio que nove ou dez. Vêm daqueles
ramos fracos da burguesia que, duas ou três gerações, conseguem manter uma
aparência de prosperidade. A estes tramou-os a revolução e a inocência do
ideal. Foram crentes fanáticos, de uma fé sem medida, a de que o sol iria
brilhar para todos, mas para eles com o calor especial reservado aos eleitos.
Esperaram. Não se deram conta das nuvens, nem da competência e ganância da
alcateia, quando a crueza da realidade os sacudiu já não havia bons bocados,
só ossos. Desses conseguiram esmolar um dos mais pequenos, insuficiente para os
nove ou dez que nada mais têm para rilhar.
Entre as quatro paredes vivem no inferno. Quando saem
delas esforçam-se por manter a compostura, mas dá pena aquele teatro. Nos
ademanes, na fala, no vestuário, nos tiques, tudo denuncia a derrota, tudo
aponta para um desenlace que, tirando-os do inferno das aparências, os lançará
no da pobreza envergonhada.