A Literatura ainda não está morta
e enterrada, mas em minha opinião para lá caminha, e não vou repetir as causas,
porque as sabe de sobra quem por ela se interessa ou dela (ainda) vive.
Vem isto a propósito de uns
colegas cuja produção, singularmente irrelevante, me deixaria indiferente não
fosse a aborrecida insistência com que aparecem em vários palcos, e quando não
há casa de espectáculos que os acolha inventam eles umas piruetas de tão enfadonho e estafado engenho
que, passado o momento de irritação, involuntariamente causam piedade.
É uma espécie que sempre existiu e
continuará a existir, mesmo quando não houver Literatura, pois sob a aparência
de escribas são apenas artistas de circo, meros saltimbancos.
Décadas atrás calhou-me conhecer
outro, de quem então pintei este retrato:
Ele
imita. Desaforadamente. E com tão pouca arte que nos seus textos, nas suas
polémicas, nas suas críticas e artigos, não custa a descobrir onde foi buscar a
inspiração ou quem lhe serviu de exemplo, tão visíveis são as 'assinaturas'
na manta de retalhos da sua prosa.
Em
nada é original, mas num detalhe consegue ser consequente: cada página que
escreve abarrota de nomes. Nomes de vivos. Esporadicamente um morto famoso,
que ele trata então com a familiaridade sobranceira que os eleitos usam entre
si.
Porque
há pouco quem não goste de ver o nome no jornal, essa sua estratégia deu fruto
e ele, em questões de Literatura, à força de nomear os outros tornou-se, se não autoridade,
pelo menos uma presença.
Medo
de que alguém o ataque não deve ter, pois há muito está provado que é possível
copiar e plagiar impunemente. Fora disso, os que ele com assiduidade nomeia e
incensa, e os que esperam que ele um dia os venha a nomear e a incensar, pronto
sairiam a defendê-lo.
Contudo,
porque não lhe falta inteligência, deve viver em tormento. Quando se arriscou
pela primeira vez a entrar no edifício da Literatura, a sua ambição era de um
dia subir aos andares de cima. O que é louvável e natural. Mas a falta de talento e de carácter empurraram-no
impiedosamente para a cave e lá se mantém. Servente da fama alheia. Talvez com
a secreta esperança de um dia chegar a mordomo.