É sempre um choque. Há anos que
sigo o que ele escreve e têm sido muitas as vezes em que admiro o brilho da sua
inteligência, a vasta erudição, a elegância da prosa, o subtil humor de que só
são capazes os espíritos refinados.
Contudo, desde há pouco noto
nele sinais de mudança. Começou pela alimentação e os bichos, mas logo depois
deu prova do seu desassossego com as questões do clima e, estranhamente, de
modo avesso ao equilíbrio que pelo menos eu dele esperava. Ainda finge
respeitar opiniões contrárias, mas de facto só tem olhos e ouvidos para os fatalistas
que juram estarem os mares a subir, os gelos a derreter, que se não se limpar o
ar que todos tão desastradamente sujamos, nos esperam fomes e desgraças que tornam
pálidas as anunciadas na Bíblia.
Todos temos direito à nossa verdade
e, felizmente também, às nossas idiossincrasias. Por isso me pergunto que
inocência é esta minha, a de esperar nos outros uma imutabilidade de opinião
que eu próprio não possuo?
Mas é sempre um choque,