sexta-feira, outubro 18

Nótulas (12)


É sempre um choque. Há anos que sigo o que ele escreve e têm sido muitas as vezes em que admiro o brilho da sua inteligência, a vasta erudição, a elegância da prosa, o subtil humor de que só são capazes os espíritos refinados.
Contudo, desde há pouco noto nele sinais de mudança. Começou pela alimentação e os bichos, mas logo depois deu prova do seu desassossego com as questões do clima e, estranhamente, de modo avesso ao equilíbrio que pelo menos eu dele esperava. Ainda finge respeitar opiniões contrárias, mas de facto só tem olhos e ouvidos para os fatalistas que juram estarem os mares a subir, os gelos a derreter, que se não se limpar o ar que todos tão desastradamente sujamos, nos esperam fomes e desgraças que tornam pálidas as anunciadas na Bíblia.
Todos temos direito à nossa verdade e, felizmente também, às nossas idiossincrasias. Por isso me pergunto que inocência é esta minha, a de esperar nos outros uma imutabilidade de opinião que eu próprio não possuo?
Mas é sempre um choque,