De Lombroso é melhor não falar. O homem está morto e
enterrado, as suas teorias idem. O que não impede que cada vez que vejo certo político,
me tome um desagradável sentimento de nojo, e me pergunte se de facto aquilo
é genético e o que vai na alma se espelha em certas caras.
A esse propósito, sobretudo a respeito de figuras públicas, é
muito do meu agrado a parte da descrição que Fialho de Almeida faz em Os
Gatos do funeral do rei D. Luís:
“No cortejo há uma mistura de porco e cão de fila, de
malandro e de títere, em muitas daquelas faces de primeiros oficiais de
secretaria, de governadores civis, de tenentes-coronéis, de generais, de
bispos, de deputados, de conselheiros de Estado e de ministros. Por sobre as golas das
fardas, dos colarinhos altos de cerimónia, as papadas oleosas dizem nutrições prevaricadas,
apoplexias de bílis odienta, intrigas rábidas, cobiças, e satiríases secretas
de amor e de vinho a horas perigosas (...). É surpreendê-los por fim quando a
máscara lhes tomba, e por detrás do cortesão surge o carnívoro, tigre ou hiena
que do seu antro segue o fio dum plano tenebroso, sindicato ou emboscada política,
venda de pena, ou venda de palavra (...).”