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Com justificada
razão anda a classe política holandesa aflita com o que pode vir a acontecer nas
eleições em Março, pois nunca foi tão grande a expectativa, nem tão complicado
o prognóstico.
É que não se trata
apenas da probabilidade de o PVV, o partido de Geert Wilders, alcançar uma
estrondosa vitória, mas também por ser grande a insatisfação para com os
políticos e a desconfiança dos eleitores.
Dentro ou fora do
governo, seguros de si e indiferentes ao que mostram de desdém, afirmam os
políticos holandeses, e também o geral dos media, que o eleitor não merece
confiança. É um tonto (sabem-no eles bem) que acredita em promessas
mirabolantes, se mostra incapaz de pensar pela própria cabeça, e “deve ser
protegido contra as escolhas que faz.”
Agora acontece que
se há país onde os cidadãos tomam a política a sério, esse é de certeza a
Holanda. Nos anos 70 um pouco mais de metade dos cidadãos dizia-se satisfeita
com as instituições e o seu funcionamento, essa percentagem alcança actualmente
75 porcento. E desde há quinze anos para cá, nas legislativas mantém-se estável o número de
abstenções, 25 porcento, um resultado apenas ultrapassado nas eleições em
países diminutos como o Lichtenstein ou o Mónaco.
Mas se nas
legislativas de Março não é o funcionamento das instituições que está em causa,
o mesmo não se pode dizer a respeito das consequências da atitude elitista do
governo e dos partidos que, segundo as previsões, irão ser confrontados com uma
novidade: um grande número de eleitores deixará de votar “tradicionalmente”, isto
é, seguindo o exemplo da família, os conselhos da religião, ou obedecendo às
directivas dos sindicatos.
Todavia, qualquer
que seja o resultado, é improvável que uma vitória de Wilders tenha como consequência
a sua ascensão à chefia do governo, pois não seriam poucos os obstáculos a
enfrentar, começando pelo facto do seu partido, que continua a ser
“excomungado” pelas elites, não dispor de quadros suficientes.
Dada essa
“excomunhão”, também nenhum partido se mostra disposto a coligar-se ao PVV, o
que pode vir a criar uma situação pouco democrática, a de o partido vencedor se
mostrar incapaz de corresponder à vontade dos eleitores.
Na hipótese de que
tal venha a acontecer, isso confirmaria o sentimento de que a elite pouco caso fará
do resultado das eleições, o que já levou Wilders a declarar: “Se ganharmos e
nos puserem de lado, quem se vai queixar de que sairemos à rua a protestar?”
Essa é a
possibilidade que, com razões de sobra, a muitos assusta.
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Publicado na DOMINGO CM.