quinta-feira, março 24

Piedade em saldo

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O vizinho sofre? Nem o conhecem ou passam de largo. Mas há desastre, atentado, fotógrafos e televisões, correm em massa, já com ramos de flores,  velinhas acesas, bandeirolas, o giz e o telemóvel, escrevem "Je suis Charlie, Nunca vos esqueceremos, No pasarán, O amor vencerá, Não temos medo…"
Fotografam, fazem selfies para a posteridade. Em Paris cantam a Marselhesa, mas a Brabançonne não serve, nem nunca a ouviram.
Dois dias passados, o que lhes dá tremuras é que demore a haver nova tragédia, uma que os poupe, mas lhes ofereça a ocasião de ir abraçar estranhos, escrever afectos no chão, dizer que testemunharam.