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Nos anos 60 e 70 era grande o meu fascínio pelos personagens
de tarados e loucos varridos que povoavam os filmes de cineastas italianos, mas
uma coisa é olhá-los no ecrã, muito outra é tê-los perto e, pela força dessa circunstância,
andar-se de pé atrás, ao mesmo tempo que se representa a farsa da amabilidade,
pois com eles nunca se sabe de que lado sopra o vento. Parecem comedidos,
corteses, mas no instante seguinte, porque desconfiaram do sorriso ou o tom das
boas-tardes lhes desagradou, pronto reviram, e se não puxam de navalha
lê-se-lhes nos olhos a sanha de Caín.
De vez em quando, em maré de calma e quase normalidade,
um desses quer saber por que razão me mostro afastado ou de quem herdei
o modo solitário. Avanço com o sorriso e guardo-me de palavras, se vir que é
preciso faço de tolo.