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Teria à volta de catorze anos quando descobri um
alfarrabista na Rua do Bonfim, no Porto, género de comércio que desconhecia, e
foi grande a surpresa de com os poucos escudos que eram a minha mesada, me abastecer
de Emílio Salgari e Júlio Verne, passar deles a Balzac, assombrar-me com "Os
Miseráveis".
Desde esse tempo remoto os livros continuam a ser para
mim o que então eram, satisfazem algo que, como fenómeno, está próximo da fome.
O que mudou é que o livro, enquanto objecto físico, tem agora tendência para me
entristecer, pois aos que enchem as
prateleiras vai acontecendo o mesmo que a mim: envelhecem. Os meus Eças dos anos 40 estão, como desde o
princípio, em grande desarrumo, mas já não me atrevo a tirá-los do lugar, e se por
acaso ou necessidade o faço não os abro nem folheio, certo que se me desfazem
nas mãos.