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Enfeitou-se o caso, escondeu-se a decepção, embrulhou-se a verdade numa porção de fantasia, encolheram-se os ombros a mais um descaramento, espremeu-se a esponja depois de tê-la passado, rezando para que não dê muito nas vistas o que ainda ficou de sujidade.
Começamos a semana, o mês,
o ano, agarrados à ilusão de dar como passado o que nos incomodou, aguardando
mudanças, melhorias, esperançados que dos que mandam nos venha benefício, que as
orações não tenham sido em vão e a divindade nos favoreça com o milagre.
A esperança empurra-nos, é
ela também quem nos tolhe, nos muda em títeres de nós próprios, hesitantes no
passo, dando um em frente outro para trás, numa ilusão de movimento que seria
cómica se não revelasse o que no fundo somos, o que se esconde por detrás do verniz e
das aparências.
Bem-aventurado o que não
espera e se mete a caminho.