(Clique)
"Recordo. Há vezes que manipulo sem dar conta, passo por alto o que deveria esmiuçar para ver claro no que me rodeava, no sentir de então, naquela parte de mim que por defesa sempre escamoteio. E pergunto-me: para quê? Por que remexo no que findou, um passado que a ninguém interessa, que de facto agora só a ela toca?
Mal chegado
ainda, e lugares, memórias, gente, as palavras, tudo me parece de um tempo estranho num país que nunca foi, tão
enraizada tenho a vontade de eliminar, reduzir a nada, livrar-me dos fantasmas
que aqui me atormentam.
Poucos
compreenderão como é possível sentir-me bem num lugar que me desagrada,
privando com gente que só na condição me é semelhante, no meio da qual me
obrigo a uma aparência que me fez tão consumado actor que por vezes a mim
próprio surpreendo, encontrando mais conforto no papel que represento do que na
pessoa que sou."