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É profissão que com gosto, contentamento, proveito para mim e para outros desempenhei trinta e poucos anos, mas ensinar não é a minha paixão. Aprender sim, e felizmente todos os dias aprendo, não pela ganância de amealhar um capital de conhecimento, ou de me querer sentir superior pela erudição, mas pelo simples gosto da descoberta e, na medida que a cabeça que tenho mo permite, afinar o entendimento.
Por vezes, todavia, como num
acesso de febre, ocorrem situações em que o mestre vem ao de cima, imagino-me
então de dedo erguido, pronto a dar a este ou àquele a lição que merece. Felizmente,
só raro chego ao que se poderia chamar vias de facto, deito mão à sabedoria dos
provérbios, dizendo-me que não vale a pena gastar cera com ruim defunto ou, à
francesa, que l'enjeu ne vaut pas la
chandelle.
Mesmo assim há horas em
que só por triz escapo à tentação de leccionar, de chamar os bois pelos nomes, sentindo
pena de que a palmatória tenha caído em desuso.