(Clique)
De repente levanta-se, ergue os braços ao modo de um muçulmano invocando Alá, detém-se um instante, volta sentar-se e conta pelos dedos, não vá eu ter dificuldade em seguir: fulano, sicrano, beltrano.
Para que ninguém
se aflija ou aborreça, passo os nomes.
Encara-me,
dramatizando o gesto, elevando a voz:
- Gigantes! Pense
você o que quiser, mas são gigantes! Verdadeiros gigantes!
Aceno que sim, não
porque concorde, mas para que se acalme.
- E há aquele
rapaz – cerra os olhos em concentração. – Aquele rapaz que possui uma escrita maravilhosa. Se você não leu deve
ler, absolutamente. Estou a ver a cara. Tem umas barbas. O outro também tem,
mas não é esse. Daqui a nada lembro-me do nome. Quando me irrito ou quando parece
que nem à viva força, é sempre isto… Tenho excelente memória, o problema é que
não consigo, se as pessoas se mostram…
O telemóvel toca e
ele atende, ouve calado de sobrolho franzido, os minutos passam. Tempo depois acena
uma desculpa, que se despede, vejo-o ir por entre as cadeiras da esplanada.
Passa dos setenta
e, como D. Quixote, imagina gigantes: não para combatê-los, mas para satisfazer
o seu anseio de admiração.