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Oito anos atrás. Os blogues são para mim novidade e começo
um, interessado pelo que permite como meio de comunicação, mais ainda pelas surpreendentes
descobertas. Há por ali talento, tolice, desvarios, infantilidade, muita poesia,
cenas domésticas, cães e gatos, dores da alma, derrotas de amor. É humano, é
simpático, permite uma olhadela na vida alheia sem os tropeços da intimidade, satisfaz
um voyeurismo inocente.
Leitor compulsivo e curioso desde o berço, não mantenho
contabilidade do tempo gasto naquilo que me interessa ou diverte, mas sei que
desde então as horas de leitura de blogues excedem de longe as que dedico a
revistas e jornais.
Surpresas tenho tido muitas, grandes surpresas também,
como o Ana de Amsterdam, de Ana
Cássia Rebelo, vinda de começo pela coincidência do nome, eu a perguntar-me se
seria alguém a viver perto.
Se digo que foi surpresa grande fico aquém do que ressenti. Foi um misto de admiração e pasmo, o temor que nos faz encolher quando alguém demonstra possuir a força e o carácter que obriga a olhar para o que mais fundo nos perturba; alguém que sem falsa vergonha rasga véus, dolorosamente se mostra nua e crua, a desafiar as convenções, a hipocrisia, gritando-nos que tenhamos piedade, não dela, mas de nós próprios, pelas ilusões com nos julgamos proteger, pelos amores que fingimos, a máscara que nunca desapertamos.
Se digo que foi surpresa grande fico aquém do que ressenti. Foi um misto de admiração e pasmo, o temor que nos faz encolher quando alguém demonstra possuir a força e o carácter que obriga a olhar para o que mais fundo nos perturba; alguém que sem falsa vergonha rasga véus, dolorosamente se mostra nua e crua, a desafiar as convenções, a hipocrisia, gritando-nos que tenhamos piedade, não dela, mas de nós próprios, pelas ilusões com nos julgamos proteger, pelos amores que fingimos, a máscara que nunca desapertamos.
A mim bastava para lhe fazer vénia, mas Ana Cássia
Rebelo possui ainda o dom da escrita, dom naquele sentido de tornar as palavras
diferentes, mais ricas, com música nova e um conteúdo inesperado. A leitura de
alguns destes textos poderá ser dolorosa pelo confronto, mas é ao mesmo tempo
razão de júbilo e encanto: a língua portuguesa está ali como numa vitrina de
joalheiro ou em cenário de ópera: sonora, brilhante, impondo-se pela riqueza.
A admiração impede-me de descambar em qualificativos e
encómios que poderiam parecer exagerados, razão válida para subscrever por
inteiro os dizeres de João Pedro George no prefácio: Ana Cássia Rebelo é
"uma grande escritora, uma radiação nova na literatura portuguesa".