sábado, dezembro 6

Os "castelhanos"

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Causa arrepios o ambiente de ódio e raiva criado em Portugal, os inquisidores in spe exigindo que sem discussão nem prova se acendam as fogueiras, alguns meios de informação descendo a um nível de baixeza que se conhece em ditaduras, mas inaceitável em sociedade democrática e civilizada.
É símbolo da pior pobreza: a do carácter cívico, do desdém pela Justiça, do direito que cada cidadão tem de ser considerado inocente até prova em contrário. Desola notar que uma possibilidade de regeneração e mudança seja manchada pela atitude soez dos que com o seu ódio procuram vingança de sabe Deus que frustrações.
Gente dessa nada augura de bom, antes prova como é delicado o equilíbrio da democracia numa sociedade que de muito longe traz hábitos de subserviência, insegurança e medo.
Acerca das diferenças de carácter entre portugueses e espanhóis, Oliveira Martins escreve na sua História de Portugal: "Há no génio português o que quer que é de vago e fugidio, que contrasta com a terminante afirmativa do castelhano; há no heroísmo lusitano uma nobreza que difere da fúria dos nossos vizinhos; há nas nossa Letras e no nosso pensamento uma nota profunda ou sentimental que em vão se buscaria na História da civilização castelhana, violenta sem profundidade, apaixonada mas sem entranhas, capaz de invectivas mas alheia a toda a ironia, amante sem meiguice, magnânima sem caridade, mais que humana muitas vezes, outras abaixo da craveira do homem, a entestar com as feras."
Para meu assombro e desgosto, tenho a impressão que parte da sociedade portuguesa se está a tornar castelhana: "abaixo da craveira do homem, a entestar com as feras."
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A gravura é de Goya, da série Los desastres de la guerra.