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Devíamos ser só espírito, diáfanos e perfeitos como os
anjos da nossa imaginação, mas o Criador achou divertido meter-nos num envelope
e, talvez para que admiremos que Ele de facto tudo pode, cria-nos todos diferentes,
os milhares de milhões que somos desde Adão e Eva, e os que iremos sendo até
que Ele decida pôr termo à experiência.
Esse envelope, sabemo-lo alguns, é um sem fim de
incómodos e aflições, pouco nos é poupado entre a constipação e a má nova do
cancro terminal. Ao mesmo tempo, sacanice divina, é desse mesmo envelope que
retiramos grandes prazeres, alegrias, as emoções que nos fazem sentir únicos.
Únicos, sim, mas chega sempre o momento em que, os
corajosos defronte do espelho, os outros fechando os olhos, nos perguntamos se
"aquilo" somos nós.
Creio que os jovens e os inocentes ouvirão a resposta
afirmativa. Dos outros não sei. De mim próprio devo dizer que o corpo é uma
companhia que lavo, visto, alimento, mas com quem não falo e prefiro não ver.
Infelizmente não sai do meu lado.