Logo
a desacertar, actor me criei, modo de fugir ao que para mim avançava, corpos,
rostos fechados, ameaçadores, prontos a esmagar. Dois palmos se tanto, sofrido
de medo e já certo que vida era guerra, o teatro um escape, saber-me de poucas
forças um revés.
Meia
dúzia de passos o caminho andado, léguas pela frente, anos, eternidades. No
sangue a intuição de perda, vinda do mais escuro do tempo, sabe Deus que mágoas
dos que passaram sem deixar nome ou pegada, iguais aos bichos, como eles
apodrecendo em campa rasa, lembrados por um jeito ou remoque, pronto esquecidos
na segunda geração.
Silhuetas
apenas, desfilam no contraluz, de espessura e aspecto têm o que lhes empresto
na fantasia, e um pouco, talvez, do que guardei por ter ouvido, desde o começo
a querer resgatá-los do esquecimento.
Mas
os outros? Quem são? Donde vêm os que sem hora nem aviso me assaltam e molestam?
Que razões têm, que as não descubro? A alguns deles nem sequer conheço, ou sim,
mas provavelmente são os que enterrei fundo no esquecimento, a vala comum dos
amores traídos, das amizades findas, das derrotas, traições e ignomínias a que
o viver obriga, mesmo quando a decência é o norte.