Dum lado a encosta é quase a pique, mas tempo houve em que por ali andou gente, pois entre silvedos e azevinhos aparece uma ou outra amendoeira, o tronco retorcido de oliveiras seculares. O matagal há muito tomou conta e estende-se irregular, agreste, um cobertor de sombria verdura.
A ribeira, lá no fundo, não se vê, só
apurando o ouvido se lhe distingue o sussurro
por entre o chilrear da passarada.
O lado oposto é de espectáculo. Fragas
negras, amontoadas na vertical, criando paredões e torres, dando ideia de
fortaleza inacabada. Tudo inacessível, gigantesco, estranho, inóspito,
ameaçador. Nunca ali tocou pé ou mão, o que arriscasse não sairia vivo, em lugar
assim só asa de abutre ou coleio de serpente.
Assombra pela feiura e o negrume, contam os
antigos que sempre foi sítio de feitiçarias, em certas noites aparece lá a
"Vergadinha", uma abetarda com focinho de cão, asas pretas e olhos
amarelos, que ao voar chora como criança.