Passou um quarto de século, mas a
recordação permanece. Durante a minha vida activa os momentos de verdadeiro
descanso eram da sexta à tarde ao sábado à noite.
Por muito que fizesse, o domingo era o sombrio
preparo da semana que ia chegar e, as mais das vezes, na manhã de segunda
arrastava-me para o calvário, em disposição parecida com a de Jesus Cristo
sentindo o peso da cruz.
Desse fardo há muito me libertei, o que não
impede que, vezes sem conta, nas manhãs de segunda-feira o meu pensamento vá
para os que se arrastam, como tantas manhãs me arrastei, para um trabalho que
tinha sido vocação e se tornara suplício.
Peço então ao Todo Poderoso que, como o fez
comigo, se compadeça, e lhes dê força para aguardar a tarde de sexta-feira.