É fábula popular, Guerra Junqueiro pô-la em
verso, muitos dias há que imagino o velho, o rapaz e o burro, e chamo à memória
que "O mundo ralha de tudo, tenha ou não tenha razão".
Tanta gente azeda por aí, quanto amargor e
veneno a retorcer as bocas, doses grandes de inimizade gratuita a
inchar os fígados. De
Monção a Monchique, da ponta de Sagres às serras de Bragança, um refogar infindo de ódios, invejas, acusações e insultos.
Os blogues, que podem ser um quase ideal
veículo para a partilha de ideias, emoções,
conhecimentos, são também, e muito, a versão moderna, cibernética, mas
nem por isso menos fedorenta, da cloaca.
E quanta opinião. Quantas convicções
absolutas. Tanto juiz de andar por casa a imaginar-se, solene, proferindo
sentenças de morte em tribunais de verdade.
Isto escrevi-o de manhã, igualmente azedo e
mal-humorado. Depois veio o almoço, copioso, conversa amena em boa companhia,
copito de aguardente velha, mais um café.
Sentei-me então a reler, e disse comigo que
nem tanto ao mar nem tanto à terra. Exagerei. Há que dar desconto ao semelhante
e a nós próprios, todos temos horas, alturas menos felizes. De facto, são
indispensáveis as cloacas, as fossas, os montes de estrume, mas ninguém nos
obriga a pôr-lhes o nariz em cima. É passar de largo.