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O primeiro impulso foi não reagir, mas disse comigo que a menina talvez não se aperceba de que existem outros mundos, de modo que em
vez de lhe responder pessoalmente faço-o aqui, pois disse que de vez em quando
visita.
É compatriota, deve ter ao redor de vinte e
poucos anos, estuda há dois numa universidade holandesa, diz que me quer
encontrar para tomarmos um café e, cavaqueando, eu lhe explique os holandeses.
Acrescenta o pedido de que lhe empreste o meu livro sobre os ditos, já que o
não encontra na biblioteca da universidade.
Tudo isto encabeçado por um
"José" que me deixou torto, avesso que sou a familiaridades com
desconhecidos e sensível ao que implicam as diferenças, não só de idade.
Acalmando e reflectindo, levando em conta
que a jovem tem bom modo e até deu a "Holanda" de Ramalho Ortigão a
ler ao progenitor, resolvi não me agastar. Todavia, se quiser o meu livro terá
de comprá-lo, e para conversas com jovens desconhecidas falta-me disposição.
Mas está perdoada. Provavelmente vive nas
nuvens do Facebook, onde tudo são simpatias permanentes, familiaridades
instantâneas, amizades ideais, e mal se dá conta de que cá em baixo há um
mundo com outras regras, deveres, boas maneiras, e aquele respeito antigo de
tratar por senhor os anciãos.