No último número da LER dá Fernando Venâncio alguns exemplos do que está mal na "ecologia da língua", a nossa, a de Camões, Vieira, etc., e atira de início uma das palavras cujo abuso mais me aflige: "incontornável".
Dessa aflição já me ocupara aqui, juntando-lhe as do "absolutamente brilhante" e a do "acutilante". Mas há mais. Sou inseguro em datas, creio que uma década atrás não lia texto nem ouvia sujeito em que não esbarrasse com "vertente". Ele era a vertente dos salários, a vertente do ensino, a vertente estética, dando-me a impressão de que no país e nas pessoas tudo se inclinava. "Negocial" põe-me fora de mim. E para quê tanto "paradigma" e tanta "epifania"? Será que exemplo e revelação pertencem à classe baixa?
Há tempos li num cabeçalho": "A distopia do PSD". Como o texto que seguia não me esclareceu fui ao dicionário em busca da palavra que nunca tinha visto. "Distopia: situação anómala de um órgão". Caramba! Dá chique. Acho que também vou usar.