Ambos sabem. Ambos fingem e escondem. Dura há anos, mas continua febril como se fosse de ontem o começo daquela excitação sem nome.
Nem amor oferecido, nem desejo da carne confessado, é nuvem que a ambos envolve e neles descarrega a electricidade que lhes faz sentir o que fica aquém e além das palavras. Falam-se com sorrisos, olhares, pequenos gestos que a outros parecerão de inocente acaso ou coincidência, mas se lhes tornaram linguagem confidencial.
Pode parecer fortuito o modo como se contam uma anedota, relatam um acontecimento, mas as palavras vão carregadas de segundo sentido e ternura secreta. São outras tantas mensagens em código o braço que se aperta, a mão ligeiramente espalmada no dorso, pousada no ombro, o choque acidental dos corpos ao passar uma porta.
Encheria um livro o que sentem e calam com os beijos castos na face quando chegam ou se despedem. Os olhares dariam um segundo volume.