Jornalista que muitos anos fui, escritor que ainda sou, a relação com os meus leitores nunca ultrapassou a breve troca de correspondência ou os encontros fortuitos em Feiras do Livro, apresentações e semelhantes.
Começado em Janeiro de 2007, este blogue não trouxe mudança a essa situação e, julgava eu, assim permaneceria. Lá vinha de vez em quando um mail que, como tenho por costume, era respondido "pela volta do correio", ou então, num encontro fortuito, uma gentil pessoa queria saber de mim isto e aquilo.
Até ao dia em que dei conta do fenómeno que me foi novidade: o blogue tinha seguidores, gente que, na minha suposição, ao ligar o computador, recebe a prosa que debito. Ora isso veio transtornar a relação que atrás referi, pois me recorda que os actuais sessenta e quatro seguidores do Tempo Contado formam o que temo desde a instrução primária: um júri de exame.
Imagino-os de sobrolho franzido e muito críticos, espiolhando as frases, corrigindo mentalmente os meus erros, comparando-me a este e àquele, escrevendo más notas a tinta vermelha. Recentemente desapareceram três deles e logo me senti culpado como na quarta classe, com o sentimento de não ter estado à altura do que de mim esperavam ou não ter dado a resposta certa.
Que tudo muda, desde as simpatias às qualidades do mundo, já desde Camões o sabemos, mas não é isso que me vai curar do temor que me causam os seguidores, nem do trauma do abandono pelos que, sabe-se lá com que boas razões, o deixaram de ser.