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Há coisa de uma semana que o papá do João passa mal e diz, sombrio, "de noite não prego olho". A esposa não quer que se preocupe, porque não há de quê, pois é sempre assim, as coisas passam. A situação pode estar má, mas graças a Deus têm o dinheirinho a bom recato, cuide ele da saúde, que esse é o grande bem.
Tudo por causa da manifestação, quando o rapaz anunciou que no sábado irá com os amigos. Não se mostrou a favor nem contra, mas no ministério vão saber, os camaradas do partido vão saber, e bem se poderá justificar dizendo que o filho é maior, vacinado, perto dos trinta, mas nada impede as invejas nem satisfaz as más-línguas.
Perdeu o emprego, mas que lhe falta? Tem mesada, tem carro, namoradas, amigos… Bem gostaria de compreender, mas há coisas que escapam ao entendimento. Como é que o Facebook ou o Twitter podem pôr tudo do avesso?
E depois há o que tinha lido numa entrevista, esquecera de quem, um sujeito a afirmar que a nossa sociedade é magrebina em mais de um aspecto, o que aconteceu na Tunísia e no Egipto bem pode acontecer aqui. Meia dúzia de garotos pega fogo ao rastilho e ninguém nos salva. Por isso não lhe venham com cantigas de que revoluções já não há, a Europa não deixa. Sábado é que se vai ver e o pesadelo é esse: hoje em dia a multidão nem precisa de armas.