Na Holanda, em 1945, devido ao mercado negro e à colossal massa de dinheiro falso que os alemães tinham posto a circular, impunha-se tomar medidas drásticas para restabelecer o equilíbrio financeiro. E assim se tornou célebre o Ministro das Finanças Piet Lieftink (1902-1989) pela decisão de cunhar nova moeda e ordenar que, no prazo de uma semana, fosse depositado e registado todo o "dinheiro velho", o qual seria restituído em "dinheiro novo" depois de verificada a legalidade da sua origem.
Milionário ou sapateiro, general ou lojista, sem distinção de meio, classe ou amizades, nessa semana recebeu cada cidadão dez florins em moeda nova para atender ao necessário e mais urgente.
Nem todos aplaudiram, mas os que tinham razão de queixa foram prudentes, preferindo calar donde lhes tinha vindo o dinheiro.
É interessante ler e ouvir como tanta gente, uns por genuína preocupação, outros por vaidade, muitos interessados apenas em manter sabe Deus que tacho, ou arranjar um, discutem e argumentam sobre a situação do nosso país, como se a palavreia fosse mezinha para resolver o que noutras partes necessita de trabalho, dedicação e consciência social.
Ia dizer que a vida política portuguesa dos passados trinta anos me incomoda e arrelia, mas na verdade enoja. Mais que a dos anos de Salazar, mais que a do breve momento em que houve uma réstia de esperança e as ilusões o não pareciam
Malabarismos, ladroagem, raivas a fingir, as inimizades de comédia, os V. Exa, o ridículo das atitudes, a arrogância, a peneirice… Será que essa gente tem espelho em casa? Não se dará conta, passada a fronteira, dos olhares com que os outros desdenham da fanfarronice, do bling-bling que a corrupção compra, do ar mafioso, do contentamento tolo com que debitam discursos de vento e pose?