"Barca d'Alva, 4 de Agosto de 1968, domingo à tarde. O comboio da RENFE acaba de chegar. Locomotiva caduca, carruagens de madeira. Fumo de carvão, silvos, barulho de ferros, barulheira de gente. Carabineiros de tricórnio. Um mundo de portugueses que vêm de França, apinhados, mortos de sede, queimados do sol, presentes ricos em caixas de luxo, malas de cartão, guitarras que ninguém toca, crianças crescidas do leite que aqui não beberiam. Gritaria. Risos. Vivas. Acenos.
Deus ajude os que foram em busca de pão, fugindo da terra-mãe onde o padrasto atirou o património água abaixo. Em nome de quê? Da defesa da Fé, da Família, e dos padrões na costa de África.
De um lado meia dúzia de calhaus, dez milhões de almas do outro, mais os que no meio tempo morreram de fome."