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Houve alturas em que eu compreendia alguma coisa da política portuguesa. Veio depois o tempo em que me parecia difícil compreendê-la. Finalmente desisti, porque o que eu julgava, esperava, que fosse política, é o descarado jogo de interesses partidários e particulares em que a nação, a coisa pública, não é de todos, mas teta prenhe de uns quantos que se poderiam julgar uma Máfia, tivessem eles o sentimento da solidariedade e da honra.
Com as suas moções de censura, adendas, reciclagens, debates e reviravoltas, a política portuguesa tem o folclore dos bailados do Verde Gaio: são tudo corridinhos, sapateados de fingimento para uma triste e miserável plateia.
O senhor primeiro-ministro e os senhores ministros arrotam as clássicas postas de pescada e, enquanto eles e nós sabemos, vemos, que tudo vai mal, afirmam sisudos que tudo corre bem, não tardarão os amanhãs que cantam, são passageiras as névoas que encobrem o Sol.
Como por falta de verba e trafulhices o Inferno não dispõe de tormentos, e o julgamento da História chega sempre tarde, quando chega, nada faz mossa aos senhores que mandam, lhes tira o apetite nos banquetes ou perturba o sono.
Mas eu, no seu lugar, punha-me a salvo, não ia acreditar na brandura dos costumes nem na mansidão de um povo besta de carga. Há sempre um momento em que os que sofrem não aguentam nem fogem, mas gritam "Basta!"
Leiam aqui e perguntem-se, como eu me pergunto: que país é este, onde se criam situações assim e os culpados delas permanecem impunes?