Geraram um filho, plantaram um limoeiro no quintal e, tomando o dito a sério, resolveram começar um livro, em menos de três tempos tinham-no pronto.
Da banalidade à pelintrice, da pose às vaidades que só a ignorância permite, das frases empoladas e tortas na gramática aos inchaços do enredo, êxtases de amor em praias desertas, música de Stravinsky, poemas de Shelley, madrigais de Monteverdi, o crepúsculo em Nápoles, o sabor de Glenfiddich – Ai quanto saber! Ai que fortes vivências! - se não há lá de tudo pouco falta.
De arregalar os olhos é também a suposição que fazem de que o leitor não deve ter a bagagem precisa para tanto refinamento. E vá de explicar em minucioso detalhe as razões por que Mariana chora ao ouvir Brahms, e atinge orgasmos num museu defronte de um quadro de Goya.
Li umas páginas de coisa assim e deu-me um repente. Não tanto pela leitura, mas porque gostava de ter, e me falta, o veneno de Camilo.