Entre os elementos capazes de facilitar a vida social, dá-me a ideia que a pose é número um.
Ainda que honesto e capaz, primeiro-ministro sem pose correspondente, impõe-se muito menos que um primeiro-ministro aldrabão, mas de sorriso esperto e com os ademanes da necessária pose. Um candidato à presidência da República queremo-lo nós com pose adequada: modos de senador romano, voz tonitruante, gestos de ameaça, sorriso avuncular.
De nada conta a capacidade, vale a aparência. Impressiona-nos a arte de um poeta? Pode ser. Mas cresce a admiração que lhe temos se, com gedelhas em farripas, ar desvairado e olhos em alvo, mostrar a imagem clássica do vate. Bem pode o sacerdote ser brilhante pregador, vestir à antiga batina e cabeção, infeliz dele se subir ao púlpito sem a aparência de quem priva com o Altíssimo.
A pose é a chave, o lubrificante do dia-a-dia da sociedade, a indispensável máscara. A sua falta complica a vida do próximo e a nossa, pois sempre nos acham – somos – melhores e mais suportáveis quando fingimos.