O porteiro tinha-lhe dito que era no terceiro andar, à esquerda do ascensor, a última porta. Sala grande, uma secretária de tampo brilhante, ambos sentados lado a lado como juízes num tribunal. O chofer encostado à ombreira da janela, uma silhueta no contraluz.
- Então?
Defronte deles, em pé, encolheu os ombros, tentou um sorriso, teve a sensação de que o medo lhe esvaziava o corpo.
- Então? – repetiu o mais velho.
- Não consegui. Mas tenho a certeza que daqui a uma semana, no máximo duas, quinze dias, quando os…
- Que certeza?
De súbito o chofer estava à sua frente, uma mão a segurar-lhe o ombro, o soco da outra atirando-o às arrecuas, a face inchada, um gosto de sangue.
Ergueu-se lentamente, esperando mais violência, mal ousando encarar os irmãos. O chofer aproximou-se e deu-lhe um empurrão, depois outro, abriu a porta com uma vénia de desprezo.
- Tens uma semana.
No espelho do ascensor viu a face inchada, um fio de sangue a correr do olho já roxo.
Discreto ou indiferente, o porteiro pareceu não dar conta e fez-lhe uma espécie de continência distraída.