Dorme-se bem em Magaz de Pisuerga e sai-se dali repousado bastante para manter o bom humor quando cinquenta quilómetros mais longe se chega a Valladolid. Foi cidade de agradáveis passeios e excelentes almoços no La Goya, mas tornou-se num tão feio estendal de arquitectura e modernidade que insensivelmente se carrega no acelerador.
Acena-se depois à torre do Arquivo Geral de Simancas, onde se guardam uns sessenta milhões de documentos da História de Espanha. Segue-se Tordesilhas, onde os nossos reis dividiram entre si o mundo, mas que para mim é o lugar onde pela primeira vez encontrei caixas de Multibanco, coisa que na progressiva Holanda só anos depois haveria.
Cem quilómetros até Zamora, cidade que conheci quase aldeã. Atravessado o Douro começam terras onde ora pastam enormes rebanhos, ora aparecem manadas de novilhos, pretos na cor, feios no cariz. Novidade é a abundância de painéis solares, provavelmente colocados ali para experimento.
Finalmente avista-se Fermoselle, por onde há quarenta anos passo e onde só uma vez parei. Em má hora foi, porque meti o carro numa rua tão estreita que a certo ponto teve de vir ajuda para me tirar do aperto. É terra com paisagens que maravilharam Unamuno e maravilham quem tem olhos para o agreste. Desta vez parei.
A barragem de Bemposta, logo adiante, mostrou-se como nunca vi, cheia até às bordas. Quando a atravesso sinto-me já em casa, os últimos quilómetros não contam.