Sou do tempo dos nightclubs. De discotecas só sei o que mostra a têvê e o que me dizem. A única vez que entrei numa, que no começo dos anos 80 havia nos baixos do Sheraton, em Lisboa, não resisti um quarto de hora ao bombardeamento de decibéis.
Mas agora, ou antigamente, gente a dançar sempre me meteu confusão. Os pares apertados, ou menos apertados, a minha adolescência olhava para aquilo como um descarado esfreganço. Não era que eu também não quisesse, mas a vergonha e a timidez levaram a melhor, aconteceu como com a natação: não aprendi nem gozei.
Vem isto a propósito de um amigo, homem nos cinquenta, com nome e bem na vida. Conta ele que ano e pico depois do divórcio, encontrando-se num café onde nunca tinha estado, encarou uma rapariga que acabava de entrar e ouviu como que uma voz a dizer-lhe: “É esta!”
Estranha afirmação da boca de um ateu confesso. Mas enfim... No dia seguinte foram para a cama, uma semana depois passavam férias na Islândia, uns meses mais e deram o nó.
A felicidade dura há cinco anos, deseja-se-lhes um happy end , e o mais certo é que haja no mundo centenas de milhar, se não milhões, de casos semelhantes. O que, aos meus olhos torna este excepcional é o facto de que eles, viciados no tango e no pasdoble, na enorme casa onde vivem todos os dias dançam. Às vezes mais de uma hora. TODOS OS DIAS!
Calei a despropositada ironia, mas como a idade traz a impotência do sexo, infalivelmente chega o dia em que o reumatismo não se condói com o sapateado.