terça-feira, novembro 18

Obesidade

No mundo árabe, nalgumas partes da África e nos arquipélagos da Polinésia, mulher obesa é prova de que o seu marido e senhor tem carteira abonada. Desde há uns anos, esse primitivo e curioso testemunho de abundância foi adoptado pelo mundo editorial. Escritor atento às possibilidades de lucro, conforma-se às directivas nem sempre discretas do comércio, segue a tendência, desata a escrever daqueles livros que têm no mínimo novecentas páginas, ao redor de vinte e cinco centímetros de alto e dezassete de largo.
Autor de livros “magros”, duzentas e cinquenta páginas ou menos, é com um duplo sentimento de inveja que observo o fenómeno. Porque não somente me agradaria receber os dinheiros, mas também de me ver com talento e capacidade para, tal o cozinheiro que espertamente dilui um molho, usar meio milhão de palavras quando cem mil bastariam para dizer o mesmo.
Porém, para mal dos meus pecados e da minha bolsa, sou eu que estou em erro. Em todos os tempos sempre se leu relativamente pouco, mas hoje em dia o livro não é primeiramente para ler. Tal como o iPod, a mala de Vuiton, o Patek Phillipe, os lenços de Hérmès, o livro é para ter, para mostrar, e quanto mais avulta melhor se vê.