Por cortesia, mas também curiosidade, fiz eu ao amigo que há tempos não via, as perguntas clássicas sobre a saúde, a família, as andanças, a disposição.
Respondeu ele a tudo pela positiva, acenei o meu agrado, foi então que me veio à memória a simpática e brilhante filha única que tem, e a curiosidade de perguntar se era oportuno saber se já havia namoro e, caso assim fosse, que opinião tinha ele do futuro genro.
A resposta veio sorridente, franca, moderna no conteúdo, mas se posso dizer que não me deixou de boca aberta e pernas para o ar – no Google procurei o significado de poliamor - tive alguma dificuldade em esconder a surpresa da revelação. É que embora me queira mostrar modernaço, não consigo abstrair da consequência das décadas que já vivi, influenciado por ideias e princípios tão distantes, que se os comparo já nem exóticos parecem, antes medievais.
Porém, como este é o mundo em que me encontro, e à vida social ninguém escapa, o remédio é aceitar. Foi nessa pacífica disposição que, algum tempo depois, recebi o pedido de Catarina.
Simpática, a meio dos trinta, vida desafogada, embora com sobra de relações e amizades não conseguia encontrar forma para o seu pé. Só que quando a encontrou – foi mesmo paixão – o cavalheiro a tinha surpreendido com uma exigência: por nada deste mundo deixaria a mulher e os pequenitos. De modo que era aceitar a três ou largar.
Catarina aceitou, e como a esposa do cujo “virava dos dois lados” – assim se dizia em tempos idos – tinham passado uns quantos meses de paixão. Por má sorte, tudo findaria na tarde em que o Jorge, cinco anos mas esperto quebra-louças, puxando-a para si e falando ao ouvido, lhe revelara um segredo. Tão assustador esse, que no mesmo instante tinha deitado a fugir.
PS. Passados uns oito anos escrever semanalmente estes textos para o Correio da Manhã, chegou a hora de parar. Grato aos que os leram no CM e aqui.
No que respeita este blog, velhinho de dezoito anos, pode ser que de um dia para o outro feche por razões várias, entre elas o sentimento de que o autor escreve com um vocabulário e num estilo há muito ultrapassados pela modernidade dos que dispensam artigos definidos e tudo conseguem "alavancar". Que o Senhor os ajude, e a nós também.