Claro que tem a ver com a idade, este meu modo de olhar para a terra onde nasci, o que nela acontece, a pobreza a que parece condenada, pois mesmo recebendo esmolas bilionárias continua pedinte. De forma que é desnecessário deitar cartas, ou possuir dons de vidente, para lhe augurar um futuro que, mesmo à vista desarmada, se anuncia precário.
Pessoalmente, muita raiva, desalento, e decepções me serão poupadas, dada a certeza de que pouco vai demorar a que receba o bilhete para o que, jocosamente, se chama a última viagem.
Mas uma dor há que em particular e fundo me aflige: a bandalheira a que parece condenada a nossa língua mãe, o desdém que por ela mostram os que deviam cuidar que se modernizasse, mas respeitando tudo o que a torna incomparável, a começar pela bela simplicidade de Fernão Lopes, depois rica e majestosa quando usada por Camões e Vieira, de elegância e ironia ímpar na pena de Eça.
Desde que apareceram, os jornais foram exemplares no cuidado dos textos. Os revisores eram implacáveis na correcção dos erros de ortografia, censores eficientes do estilo desleixado, contribuindo assim para que a leitura do jornal não fosse apenas tomar conhecimento das notícias, mas o confronto com um vocabulário rico, e uma prosa cuidada que não desmerecia da literatura.
Leitor fanático desde a infância, e a sonhar-me escriba, o que nos jornais aprendi muito me ajudou como porta de entrada para o meu ofício. Infelizmente faz tempo que o lê-los já não me irrita, só entristece, pois o que com frequência lá encontro nem são erros de palmatória, mas calinárias, bazófia de analfabetos.
No jornal a escritora afirmava: “Quando escrevo sinto um enorme gozo”. Prazer talvez conheça, certo é que gente assim despreza a língua, anda a gozar connosco.