Ao nascer do dia
passam curvados, sacho ao ombro, num andar lento e comedido que lembra o dos
lapões e dos tibetanos, que por pequeno que seja nunca levantam os pés sobre um
obstáculo, mas o rodeiam, a poupar energia para a jornada e a tarefa.
Estão a chegar ao fim da velhice, há muito esqueceram as alfaias que lhes
pareceram modernas e mais que precisas, mas agora enferrujam no cabanal, o
atrelado a servir de capoeira, os pneus vazios, as pitas a chocar no assento do
tractor.
Meia dúzia de anos, se tanto, iludiram-se com as novidades, aprenderam a usar
isto, aquilo, mas o atavismo e o tempo breve se encarregaram de lhes fazer ver
que não era esse o caminho. Infelizmente não havia retorno, e quando deram
conta já os anos lhes tinham gastado as forças.
Mas só a morte os há-de parar. É assim que todas as manhãs, tornados autómatos
pelo instinto milenário, vão a caminho
da tarefa inútil de plantar batatas que não precisam, couves que ninguém quer,
gastando o que lhes resta de força na poda e na cava das oliveiras.
A sua presença impõe respeito. há neles algo de primitivo e natural que nós
outros perdemos. nós, os que vamos existindo, sem raízes nem mistério que nos
empurre.