terça-feira, abril 30

Bem-aventurado

 

Bem-aventurado aquele que na solidão da noite faz o balanço e conclui que, a traços largos e nos episódios maiores, a vida que leva é a que desejou. bem-aventurado também o outro, que à mesma hora revê o seu passado, o seu presente, lembra os sonhos que teve, os que não realizou, e ao somar ganhos e perdas sorri contente, se diz que valeu a pena. bem-aventurado ainda o que deixa correr os dias ao sabor da ocasião, indiferente aos atropelos e às benesses, perdendo a memória do que aconteceu, do que sentiu, interessado apenas no que vem a caminho.
Infeliz o que, desejando ser o que nunca será, querendo possuir o que não lhe cabe, se mata aos poucos julgando que vive.
Falamos de nós próprios e vivemos nos outros, para os outros, eles a condicionar-nos os actos, o pensamento, o modo, as intenções, impondo usos, aguardando gestos.