Enganas-te, minha linda, não há conversas nem troca de confidências, partilhas no Facebook, nas caixas de comentários, nas salas ou nos quartos. Não há. Nem mesmo quando tens o outro ao teu lado na cama ou no café. Palavra que não há.
De nada adianta pores cara feia, chamares-me cínico, velho azedo.
Um dia, mas tarde demais, irás descobrir que são tudo ânsias de parecer, convencer, demonstrar. O diálogo pode ter ares de conversação entre duas pessoas, mas é a aparente sintonia de dois monólogos. As palavras que saem da boca não são as que o cérebro forma, nem as que mais tarde lembram. Se reflectires verás que não disseste o que pensavas dizer, e transformaste o que te pareceu ouvir. Com boa razão intercalamos gestos e sorrisos, muitos sorrisos, naquilo que dizemos, pois não se vai à luta sem resguardo ou camuflagem. Porque tudo é luta, minha linda. Mesmo o que parece conversa.
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Na intimidade ou em público, amarrados ao imperioso desejo de agradar, não ferir, estar de acordo, nós, portugueses, mantemos estranhas e subservientes conversas. Deve ser a gota de sangue asiático que trouxemos das navegações