sexta-feira, fevereiro 10

Fique fama

 

Como não nasci rico, não enriqueci, e desde cedo ganhei umas ideias esquisitas sobre o que deveria ser a sociedade, certas das minhas opiniões e atitudes não se prestam a facilitar o trato social.
Desse modo permito-me aqui o que evitaria numa roda de gente, a saber: afirmar que me divirto com estes tempos em que, mais descaradamente que no passado, os bancos e os banqueiros roubam. Nada de migalhas, mas às centenas, aos milhares de milhões, que só assim vale realmente a pena.
Aquele gesto heróico do cavaleiro que se lançou contra o inimigo, gritando «Morra homem, fique fama!», tem agora uma versão bancária: «Roube homem, fique fama!» Que fica. Fama e proveito. Porque, curiosamente, constatada a fraude, ninguém sabe para que bandas o dinheiro voou ou em que buraco se meteu.

Bem sei, talvez devesse ter pena, mas se na televisão vejo uma assembleia de accionistas a gritar «Ladrões! Canalhas!» contra os banqueiros que souberam e puderam roubar mais e mais seguramente do que eles, divirto-me tanto como com o talento do melhor stand-up comedian.
Não quero magoar, mas é grande o meu desdém pela ganância. Tão grande que nem me permite fingir. Será que devo ter pena do casal idoso que choraminga ter perdido tudo, porque o banqueiro lhes prometia mais dois por cento do que os outros?
«Num depósito de quatrocentos mil dólares é muito dinheiro, lamuria ela, e nós julgávamos!...»