Como não nasci rico, não enriqueci, e
desde cedo ganhei umas ideias esquisitas sobre o que deveria ser a sociedade,
certas das minhas opiniões e atitudes não se prestam a facilitar o trato
social.
Desse modo permito-me aqui o que evitaria numa roda de gente, a saber: afirmar
que me divirto com estes tempos em que, mais descaradamente que no passado, os
bancos e os banqueiros roubam. Nada de migalhas, mas às centenas, aos milhares
de milhões, que só assim vale realmente a pena.
Aquele gesto heróico do cavaleiro que se lançou contra o inimigo, gritando
«Morra homem, fique fama!», tem agora uma versão bancária: «Roube homem, fique
fama!» Que fica. Fama e proveito. Porque, curiosamente, constatada a fraude,
ninguém sabe para que bandas o dinheiro voou ou em que buraco se meteu.
Bem sei, talvez devesse ter pena,
mas se na televisão vejo uma assembleia de accionistas a gritar «Ladrões!
Canalhas!» contra os banqueiros que souberam e puderam roubar mais e mais
seguramente do que eles, divirto-me tanto como com o talento do melhor stand-up
comedian.
Não quero magoar, mas é grande o meu desdém pela ganância. Tão grande que
nem me permite fingir. Será que devo ter pena do casal idoso que choraminga ter
perdido tudo, porque o banqueiro lhes prometia mais dois por cento do que os
outros?
«Num depósito de quatrocentos mil dólares é muito dinheiro, lamuria ela, e nós
julgávamos!...»